terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Clube da Luta, de David Fincher


Diz um ditado que existem mulheres que conquistam o homem pelo estômago através de uma boa comida. Da mesma forma existem os filmes que conquistam o público ou parte dele com uma única música ou com uma trilha sonora que o pegue de jeito. Não sou nem de perto um especialista em trilhas para cinema. Um curso ou um bom livro seriam muito bem-vindos e assim eu poderia futuramente passear com um pouco mais de propriedade sobre o assunto. Por enquanto considero-me um simples espectador que possui a mesma sensibilidade auditiva da maioria dos mortais, diferenciado apenas pelas minhas preferências e impressões pessoais.

Minha atenção estalou quando assisti Sangue Negro numa dessas salas de som digital. Senti uma perturbação crescente ouvindo aquelas batidas marcadas que pareciam não combinar em nada com as planícies bucólicas onde se fazia a extração de petróleo. Um cenário que definitivamente parecia exigir um som mais pacífico. Porém a história era o maestro, e não a paisagem. O suspense, mantido em todo o tempo pelo som desconcertante, fez da trilha a grande protagonista do filme. A atenção do público era sustentada principalmente pelo som sinistro. A partir de Sangue Negro, passei a dar uma atenção mais carinhosa às trilhas.

Voltando um pouco mais no tempo, uma das minhas trilhas prediletas, que eu tinha gravada numa fita cassete, é a de Coração Valente, filme dirigido por Mel Gibson em 1995 e que conquistou o prêmio de Melhores Efeitos Sonoros entre as cinco outras estatuetas conquistadas na edição de 1996 da maior premiação de cinema do mundo . Outra trilha que tinha gravada em fita cassete: Rocky IV, filme de 1985, com a histórica Eye of the Tiger. As músicas de Coração Valente e de Rocky IV tinham o poder de me fazer assistir o filme mental e detalhadamente. Esse é o verdadeiro poder de uma trilha bem feita. Outro caso interessante foi o de Shrek Terceiro, que tocou num dado momento do filme Do You Remember Rock N´Roll Radio?, dos Ramones, uma das minhas bandas preferidas. Naquele momento, de frente pra tela com o ogro verde e com Ramones tocando em alto e bom som, me veio à mente um outro filme (bem mais viajante que Shrek): eu levantando da poltrona e soltando os bichos num pogo tipicamente punk. Mas estava na formalidade do cinema e dali seria posto pra fora caso tivesse um acesso de loucura entre meus semelhantes. Minha próxima meta é gravar a genial trilha de Kill Bill, do cineasta top da minha lista.

E assim aconteceu quando assisti nesse fim de semana o filme Clube da Luta, dirigido por David Fincher. O auge, na minha opinião, não foram as cenas de luta, nem de sexo, nem de insanidade. O auge foi a última música na cena final que coroou o filme: Where is My Mind, do Pixies, banda que fez parte de toda a minha adolescência punk e que reinará para sempre nos HD´s da minha vida. Nenhuma outra música poderia ter sido melhor encaixada do que essa, totalmente pertinente à confusão mental do protagonista. Não só a letra, mas o som também trouxe mais alma pro final apoteótico. Aquele sim foi um final feliz e digno para um espectador como eu, surpreendido com o que há de melhor em sua raíz musical. O filme poderia ter sido até mais ou menos, mas já teria valido à pena pelo simples fato de ter Pixies nos últimos minutos. A música trazia o filme inteiro dentro de si - início, meio e fim. Confesso que não dei atenção suficiente ao restante da trilha, mas se só tivesse essa música, como já disse, seria o suficiente.

O crédito, obviamente, vai para o roteiro bastante original e para as brilhantes atuações de Edward Norton e Brad Pitt. Edward Norton faz o papel de um investigador de seguros que tem um confortável padrão de vida mas que devido às suas ansiedades prefere conviver com pessoas problemáticas que frequentam terapias grupais (pessoas com câncer, com tuberculose etc). Dessa forma ele tenta aliviar seus anseios. Nessas reuniões ele faz amizade com Marla, uma mulher com tendências suicidas. Tudo muda quando ele inicia uma estranha relação de amizade com o personagem de Brad Pitt, Tyler Durden, um excêntrico vendedor de sabonetes. Os dois passam a morar juntos numa mansão caindo aos pedaços após uma misteriosa explosão no apartamento do investigador de seguros e fundam assim o Clube da Luta - um clube que tem como membros homens que se socam violentamente, como se estivessem numa terapia. A originalidade do roteiro é o que me fisgou. E quando roteiro, atuações e trilha estão em sincronia, a arte sobra, como foi o caso desse cultuado filme de 1999. Se é que a arte pode de alguma forma sobrar nas obra-primas dos grandes artistas.

3 comentários:

  1. Ilan, sua crítica ao filme ficou excelente. Gostei muito, se não soubesse q. foi vc. quem escreveu, pensaria q. foi um crítico bem experiente que analisou todo o filme.
    Apesar da violencia do filme, e do aspecto angustiante dos atores principais, gostei do filme pelo conjunto da obra, trilha, atuações, a criatividade do roteiro, cenários etc.

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  2. Nossa adorei .
    Não vi esse filme mas o que acredito ,tambem como mortal rsrsrs é que filme tem a função de alterar nossas emoções ,nos fazer pensar,sair um pouco da realidade do dia a dia e claro informar
    A musica é fundamental sempre ,ja que tambem altera nossas emoçoes
    Adorei o Blog ja estou seguindo
    Bjuus e parabens.

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  3. Cara,
    esse filme é uma obra prima!
    Esta entre os melhores junto com Klass,A onda e outros.
    O genial do filme só pode ser percebido´, pelo menos é o que eu acredito, depois de tê-lo visto duas vezes. Porque é um filme que choca e transmite muitas informaçoes que temos que estar atentos.
    Bom vou partilhar as coisas que me chamaram atenção alem da espetacular atenção de norton, britt e claro de helena.
    1- Se você reparar o norton nunca fala o seu nome, marla se apresenta e tyler tambem, mas o norton NUNCA.
    2- qdo marla liga para casa do britt, e norton se surpreende, e, ela nao entende porque
    3- o tyler é o oposto perfeito do Norton; ele sempre bate enqt norton (na exceção da porrada que ele deu no angel face) só apanha

    Mas uma coisa me intrigou:
    O bob trata o Norton como se ele nao fosse o tyler, tem uma cena que ele fala sobre o clube da luta e ele pergunta ao norton "conhece tyler durden". Me desnortei.

    Fora isso as atuações são maravilhosas

    Não reparei na musica.
    E parabens pelo post

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Comentários