quarta-feira, 3 de março de 2010

Feliz Natal, de Selton Mello


A velha máxima popular “família é tudo igual, só muda o endereço” passou por minha cabeça durante grande parte do filme Feliz Natal (2008), de Selton Mello. Ao apertar o play do controle remoto, entrei em contato com os laços viscerais de uma família tão comum quanto à minha e às de milhões de pessoas espalhadas pelo globo.

Tragédias, culpas, acusações, loucuras, vícios, distâncias, separações, solidões. O oposto do afeto é cruamente exposto, trazendo uma introspecção incômoda. É quase palpável o vácuo existente entre os personagens. Pode ser que as questões levantadas passem batidas aos que vivem ao redor de uma mesa de café da manhã com pessoas perfeitas e sorridentes presas a um comercial de margarina. Não que isso seja uma utopia, o buraco da realidade é que é um pouco mais embaixo.

Quem é Caio e o que o passado dele esconde de tão grave? São perguntas que funcionam como fios condutores da trama. Cada personagem tem suas doses, geralmente cavalares, de drama. Os conflitos precedem aos diálogos através de olhares, sorrisos e gestos prestes a despencarem de um precipício a qualquer momento. É a certeza da existência de uma linha tênue separando as seguranças e as inseguranças da vida.

Sou suspeito para falar de Leonardo Medeiros, que interpreta o protagonista Caio. Até o momento gostei de todos os filmes com ele: Não por Acaso, O Cheiro do Ralo e Budapeste. Provavelmente tenha assistido outros trabalhos do gabaritado ator que geralmente encarna figuras atormentadas que muito me agradam e me incomodam (no melhor sentido da palavra).

Lucio Mauro também está excelente fazendo o papel de pai de Caio. Lucio é um verdadeiro monstro sagrado da dramaturgia brasileira e sou fã do ator.

Uma atriz que ainda não conhecia era Darlene Glória, que interpreta a mãe problemática de Caio. Excelente a cena em que ela resolve falar do sentido bíblico do Natal à mesa, no “enterro dos ossos” da ceia.

Graziella Moretto é rotulada em minha mente como atriz de humor. Tenho a impressão de que a qualquer momento ela vai me fazer rir. Nesse filme a atriz está otimamente dramática como a cunhada de Caio, apesar de não conseguir dissociar sua imagem do caricatural.

Quanto ao ator Paulo Guarnieri, nunca havia assistido nenhum filme com ele. Lembro do seu rosto em novelas da Globo quando eu ainda era moleque. Ele devia estar bem sumido, pois fiquei surpreso com a aparição dele no filme. Guarnieri faz o papel de irmão de Caio.

Esse foi o primeiro filme dirigido por Selton Mello. O roteiro foi escrito em parceria com Marcelo Vindicatto. Minha admiração por Selton era somente enquanto ator de cinema. Que os futuros trabalhos de Selton, também como diretor e roteirista, sejam tão bacanas quanto Feliz Natal.

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