quinta-feira, 4 de março de 2010

Blade Runner, O Caçador de Andróides, de Ridley Scott


Quando Blade Runner foi lançado em vídeo, por volta de 1983 / 1984, lembro que meus pais me vetaram na sessão que seria feita no conforto da sala de casa. A justificativa: "não é filme pra criança". Certamente fui pra cama decepcionado. O título era (e ainda é) muito interessante para um menino de quase dez anos. O que poderia ser mais atraente para um garoto nessa idade do que as palavras "caçador" e "andróides" reunidas num único título que, aliás, segue a mesma linha, por exemplo, de O Exterminador do Futuro (filme violento para a época, pode rir), que assisti escondido na casa dos meus primos, lugar onde me realizava como fazedor de merda. Quase trinta anos depois, entendi que Blade Runner é de fato uma ficção científica mais cult que as demais. Meus pais estavam certos. Eu não entederia lhufas naquela época. No máximo iria me apaixonar pela andróide Pris, interpretada pela loira Daryl Hannah, com seu estilo new wave de ser e seus excêntricos movimentos de ginasta. Por outro lado seria bem capaz de ter pesadelo com o líder dos andróides Roy Batty, que mais parece um integrante de passeata gay e pouco tem de assustador. Estar na pele do herói blade runner Deckard (Harrison Ford), perseguindo andróides nas ruas futuristas de Los Angeles com sua pistola modernosa, também não iria mal. Ainda mais tendo aos seus pés a linda e sensível andróide Rachael (Sean Young), com seu estilo de pin up andrógina.

O filme é uma adaptação da novela Do Androids Dream of Electric Sheep?, escrito em 1968 por Philip K. Dick. A história se passa em 2019, quando a humanidade inicia a colonização espacial. A fábrica de andróides Tyrell Corporation cria os chamados replicantes, seres geneticamente alterados, mais fortes e mais ágeis do que os próprios humanos. Por algumas razões, os replicantes foram criados com um tempo de vida útil de apenas quatro anos. O trabalho pesado e arriscado nas colônias é feito por eles. Ocorre um motim numa dessas colônias e a presença dos replicantes na Terra torna-se proibida. Aí é que entra em ação o ex-blade runner Dackard (uma espécie de soldado de elite dos caçadores de andróides), voltando à ativa para combater os replicantes rebeldes que vêm à terra em busca do seu criador para fazê-lo aumentar a duração de suas vidas.

É nítida a importância desse filme na história do cinema. Sugiro ainda que o assistam mais de uma vez, pois uma série de questões filosóficas são levantadas e, portanto, numa primeira sessão feita com um olhar menos atento são passíveis de não serem percebidas. As grandes dúvidas que afetam os replicantes são as mesmas que as nossas: quem é o nosso criador? por que morremos? qual a nossa missão?

A trilha sonora é marcante, visto que eu já conhecia grande parte dela antes mesmo de assistir o filme. Sensação de reconhecimento. Logicamente que nesses quase trinta anos de Blade Runner suas músicas foram exaustivamente repetidas em publicidades e paródias, o que torna a trilha bem familiar a quem assiste o filme pela primeira vez.

Um detalhe importantíssimo que não poderia deixar de mencionar é a cena em que Dackard passa diante de um letreiro onde se pode ler Bradbury (não é Blackberry!). Que sacada do diretor para homenagear um dos maiores (senão o maior) escritores de ficção científica Ray Bradbury! Para quem não conhece, Bradbury é o autor americano de Crônicas Marcianas e de Fahrenheit 451, obras-primas da literatura adaptadas para o cinema, teatro, tv, quadrinhos etc. Para citar o exemplo mais conhecido, em 1966 Truffaut adaptou Fahrenheit 451 para as telonas. Aos mais resistentes às ficções científicas, como eu, os contos de Crônicas Marcianas são um excelente quebra-gelo. Sendo eu um dos que faziam coro ao grupo resistente a esse gênero, e tendo hoje como pilares do meu olhar sci fi o escritor Ray Bradbury e agora o filme de Ridley Scott, prometo a mim mesmo ter mais carinho e atenção com as obras literárias e audiovisuais voltadas aos robôs, alienígenas, espaçonaves e, principalmente, a uma humanidade mais consciente com seu planeta e com os seres que nele habitam.

Um comentário:

  1. Não me lembrava que te proibimos de ver esse filme,mas, se vc. lembra é pq. foi mesmo e deve ter sido para evitar temores infantis a noite, já que não é para criança mesmo.
    bjs

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Comentários